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IÊDA

Terapeuta Holística

IÊDA: Projetos

A primeira bruxa com a qual tive o prazer de conversar foi Iêda Copetti, uma terapeuta holística de 57 anos de Florianópolis que tem como principal forma de bruxa a prática de fazer fogueiras. Mas pedi primeiramente para ela nos explicar o que é a terapia holística com a qual trabalha.
R.: É sobre consciência corporal, o que teu corpo fala para ti que você ainda não tem consciência. Se faz uma análise do que o teu corpo te pede e te sinaliza e você não percebe ainda. Depois dessa leitura se faz um processo de desbloqueio de pontos de energia no teu corpo e ao final um exercício para responder as leituras.

O que é bruxaria para você?
R.: Bruxaria é tu sentir algo e esse estado se manifestar, isso é uma bruxaria de alma que todo o ser humano tem mas tem medo de ver. Alguns mais, outros menos. Ás vezes quando eu estou ouvindo alguém, a história daquela pessoa, eu vou sentido, entrando, e falo coisas para ela que ela ainda não manifestou mas pode vir a manifestar. Bruxaria são todos os seres humanos do planeta (risos), só basta ter tempo pra praticar.

E quando você descobriu a bruxaria?
R.: Na verdade eu sempre gostei de fazer coisas de bruxaria desde pequena. Por exemplo, eu tinha pavor de matemática, então eu pegava folhas secas com carvão e anotava os números e fazia fogueira e queimava as folhas, e se eu não fizesse aquilo eu ia mal na prova. Eu gostava de sempre fazer a noite, nunca de dia. A minha mãe e as minhas irmãs mais velhas sempre falavam que era coisa da minha cabeça.
Então eu tinha essa coisa incessante desde que eu era pequena de fogo, de fazer fogo pra trazer resposta. até presente de natal, se eu ia receber o que eu tinha pedido. Eu fazia atrás do forno da minha mãe, ela fazia os pães caseiros ali, era o meu lugar de brincar, e eu escrevia com carvão no tijolo. Então eu fazia os meus rituaizinhos de fogo tudo ali, e eu ficava neste misticismo já de pequena.

E quando você começou a praticar de uma forma mais consciente?
R.: Foi quando eu cheguei lá na Europa, que eu fui morar em Portugal, e Sintra é um lugar mágico e muitas pessoas fazem fogueira. A gente encontrou um grupo para trabalhar a humanidade, chamavam-se Peregrinos do Cosmos, e eles sentem as pessoas que podem participar de fogueiras. Eu já tinha feito fogueiras antes, mas lá foi uma coisa muito de troca, eu tive muitos mestres e me pus de discípula, e foi algo que me trouxe muita resposta sobre muita coisa relacionada a minha vida.
E outra quando eu fui para a Amazônia, e lá mesmo é muito místico é muito magico. Mas lá eu comecei a sentir uma ausência de sincronicidade na humanidade, e percebi que se todo mundo estivesse interligado as coisas seriam muito mais leves, e eu parei de fazer fogueira para só os meus objetivos, de forma egoísta, e comecei a fazer em um nível de humanidade, como para a pandemia.

Ela comenta sobre não se pode ter expectativa de absolutamente nada, pois a fogueira surpreende, é muito da energia do momento, das pessoas em volta. Então a questiono sobre o que ela sente quando está praticando.
R.: Eu começo a sentir muita leveza, é como seu começasse a perder um peso que tenho dentro, e o fogo vai transmutando essa coisa densa que tem em mim de pensamentos que não controlo ou relações com outras pessoas e vibrações que não são boas, até pesadelos. Então quando acontece esse processos tu se sente mais leve, mais livre, parece que a alma toma conta de novo do corpo. Essa coisa da prática é entrega de coração e de alma. Mas não costumo chamar de feitiço.
O fogo transmuta muito, ele te traz muita resposta. no momento que o fogo tá ali acontecendo parece que começa a se abrir um canal que começa a te mostrar, "nossa com tu tá remando pequeno, pensa grande pensa alto, tenha pensamentos mais elevados..." Ele começa a te trazer um estado de consciência da isenção da futilidade e da ilusão. O fogo te trás uma consciência sobre o tempo, sobre o que você está fazendo aqui e quanto tempo tu vai ter pra concretizar o que tu realmente quer fazer aqui. Ele começa a mexer com nosso ego, o fogo queima o ego também. Tu começa a se sentir mais sensível, ele abre, muda a tua vibração.

IÊDA: Sobre
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IÊDA: Imagem

Iêda diz não ter uma religião e nem trabalhar com entidades específicas, mas acredita em diversas coisas, e sempre pede a proteção e invoca os elementos da natureza.

Como você inclui a bruxaria no seu dia-a-dia?
r.: Eu associo a bruxaria muito com a disciplina. Se tu acordar e invocar os elementos da natureza, a força do universo, para que esse dia seja próspero, que tu possa dar o melhor de ti, então tem fluidez. À medida que tu acorda atropelada, não faz tua invocação, como já me aconteceu, tu não consegue ter aquele êxito. Então eu tenho rituais para me disciplinar.
Eu acordo de manhã e tem um sino, eu toco o sino, faço meu ritual e vou para o trabalho. Eu vou a pé então eu passo pelo mar e já vou conversando, passo pelas árvores e já vou abraçando, trabalhando a minha conexão com a natureza. Chegando lá eu peço permissão, no sentido de que "estou entrando nessa sala, a sala da alegria, pensamentos negativos fiquem do lado de fora..." Aí eu acendo a vela e só apago na hora de ir embora. O fogo pra mim é uma coisa que segura que sustenta.
Ás vezes eu acordo e percebo uma energia estranha no ar, mas quem sou eu pra descobrir essa energia estranha no ar? Aí parece que tá tudo em rebuliço, o mar tá revirado, já tem uma pessoa na padaria que quebra a xícara. Então eu já faço meu ritual para todo o universo. a gente gosta de pensar que nós sozinhos aguentamos mas não é assim, existe uma unidade.

Eu pergunto à ela também sobre planos para espalhar o seu conhecimento e passar para frente a prática:
R.: Mas quem sou eu pra ensinar? Sou uma simples aluna.
Mas eu quero agora fazer grupos para trabalhar as energias. Eu sinto que preciso fazer isso. Simplesmente uma partilha, uma vivência. Eu sinto que além do que eu faço algo está me chamando, está em andamento. Para eu trabalhar nesses grupos eu preciso de uma isenção total de ego, e eu sinto que ainda não estou lá. Estou passando por uma rasteira, por uma limpeza, de muita humildade. É sobre não julgar. Essa coisa da bruxaria é muito sobre a isenção do julgamento.

Ela conta também sobre quando fez o Caminho de Compostela, com esse grupo, os Peregrinos do Cosmos. Havia muita raiva, uma energia extremamente pesada nela. Todos ao seu redor sentiam a tal da leveza, da purificação, mas ela não. Ao final dos 20 e tantos dias, ela se recusou a entrar na igreja com o resto do grupo. "Eu disse: eu não quero pisar nessa lajota. Por que eu sinto que embaixo tem uma energia horrível que eu não quero me conectar. Daqui eu não vou passar."
No outro dia a moça que coordenava o passeio falou que iriam só as duas nessa igreja, para mostrar o por quê desse energia. Embaixo da igreja eram onde mulheres eram queimadas com tochas. As "bruxas" da época, que trabalhavam com a natureza, faziam curas, e os religiosos da época não aceitavam.
"Essa raiva não quer dizer que não tenha sido uma limpeza. Me deu umas coisas estranhas, umas feridas, emagreci muito, mas mudou minha vida. Eu sentia como se tivessem identidades que eu havia soltado ali. Isso que eu vivenciei foi muito pesado, mas eu pude perceber que eu queria ser somente quem eu era."

E qual é a reação das pessoa quando descobrem que você é bruxa?
r.: Eu procuro não dizer, eu sou muito discreta. Eu procuro ser sutil, por que eu acho que isso leva muito ao lado do ego. Acho que eu tenho que contemplar e agradecer. Eu vivencio mas fico pra mim.

Ao fim, ela indicou que todos experimentem escrever uma carta para o universo, pedindo por tudo que está travado, trazendo a sua energia de volta para si. "Espalha essas cinzas, no verde, no mar, e se não der certo faz de novo. Temos muito essa questão dos resultados imediatos, mas uma hora vai, e você vai ter a claridade que precisa."

IÊDA: Texto
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IÊDA: Imagem

Após nossa conversa, Iêda, eu, a equipe e mais algumas mulheres fomos todas para a beira da Praia da Armação, na chuva e ventania, para acender a tão esperada fogueira. Mais cedo naquele dia tínhamos coletado galhos para montar a base, e Iêda levou papéis e recibos e todo tipo de miuçalha para compor.
Para ter certeza de que todas as energias estariam protegidas, ela distribuiu orgonites (um objeto feito com resina, cristais, cobre e alguns outros elementos que ajuda na transmutação de energia estagnada em positividade) para cada uma, fitas para taparmos nossos umbigos, e óleo *** para passarmos nas mãos.
"Antes de fazer a queima, a gente pede que esse fogo possa purificar. E se começar a chover, a gente não pode resistir ao que a natureza manda."
Devido ao tempo, o fósforo demorou a acender e a fogueira demorou a pegar, mas depois que pegou não teve mais volta. Essa fogueira, como todas as outras, tinha o principal intuito de pedir pela cura da humanidade, por uma sociedade mais humana.
"Nesse ano de novos líderes, que sejam colocadas as melhores pessoas independente de partidos. na isenção de ego e de força. Vamos pedir o melhor para o mundo."
A fogueira cresceu e cresceu até parecer impossível de conter. A fumaça se agarrou à nossa pele, e a chuva e o vento mal se faziam sentir. A energia do fogo era palpável, e em certo momento, tivemos um visitante. Um cachorro de rua, enorme e peludo, simplesmente surgiu e passou por todas nós até parar ao lado de Iêda, se sentar, e acompanhar o resto do ritual. Ele não fez um pio durante seu tempo ali, e chegou até a se jogar de barriga para cima para receber carinhos, e Iêda comentou sobre sempre haver algum sinal do universo em forma de animal quando faz seus rituais, uma forma da natureza responder seu pedido com um protetor.
Ela continuou observando o fogo, procurando suas respostas, pedindo a cura do mundo, e também distribuiu um limão e duas castanhas para cada uma de nós lá, que pusemos sobre o fogo para purificar e depois comermos, e pediu para coletarmos um ramo de alecrim de uma pilha para queimarmos em casa.
Ao final de tudo, Iêda cobriu a fogueira com areia, de acordo com ela poderia demorar até quatro horas para o fogo se extinguir por completo. Ela coletou todos os orgonites e os limpou na água do mar, e ao terminar o ritual, eu mesma agradeci ao mar por nos ter proporcionado uma noite de tanto encanto. Nosso companheiro canino permaneceu na praia até irmos embora, e então seguiu seu caminho, assim como nós.

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